Revista Reformador

Genealogia e nascimento de Jesus

“E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor
entre os clãs de Judá; pois de ti sairá um chefe que
apascentará Israel, o meu povo.” (Mateus, 2:6
“[…]. Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será
para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que ́
Cristo-Senhor, na cidade de Davi.” (Lucas, 2:10 e 11.)

Marta Antunes Moura*
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Resumo

O texto transmite informações relacionadas à genealogia e ao nascimento de Jesus, o Messias de Deus, com base em citações dos Evangelistas Mateus e Lucas, interpretadas à luz do Espiritismo. Analisa também o significado espírita do nascimento de Jesus, tendo como referência a visita dos magos do Oriente, o anúncio transmitido pelo Anjo do Senhor e o louvor proferido pelas vozes celestiais aos pastores que se encontravam em vigília do rebanho.

Palavras-chave

Jesus Cristo; sua ancestralidade e nascimento; magos do Oriente; materialização de Espíritos e de vozes; o Messias Divino; o Guia e Modelo da humanidade terrestre.

A genealogia de Jesus

A genealogia de Jesus é encontrada em Mateus, 1:1 a 17 e Lucas, 3:23 a 38. São, porém, relatos que apresentam diferentes enfoques: Mateus dá ênfase à ancestralidade régia de Jesus como descendente de Abraão e Davi, a partir de José da Galileia. Lucas traça a ascendência de Jesus tendo como referência Maria de Nazaré, mantendo-se fiel à tradição do Judaísmo que determina ser a mãe quem determina a origem biológica do filho, fornecendo-lhe, assim, o nome de família.

Genealogia ́ “exposição cronológica, em forma de diagrama, da filiação de um indivíduo ou da origem e ramificações de uma família”.¹ A genealogia descrita nos textos bíblicos difere do atual, que é bem mais simplificado. Os textos testamentários abrangem três conceitos diferentes: a) relatos históricos, breves ou extensos, de nomes ancestrais; b) fontes cronológicas que permitem omissão de algumas gerações de parentes indiretos (netos, cunhados, tios etc.), detendo-se mais na linhagem direta: esta é a forma mais comum presente no Antigo e Novo Testamentos; c) fontes dinásticas, que fornecem listagem de reis e ou de governantes.²

A genealogia de Mt., embora sublinhe influências estrangeiras do lado feminino (v. 3 5, 6), limita-se ̀ a ascendência israelita de Cristo. Ela tem por objetivo relacioná-lo com os principais depositários das promessas messiânicas, Abraão e Davi, e com os descendentes reais deste último […]. A genealogia de Lc., mais universalista, remonta a Adão, cabeça de toda a Humanidade. De Davi a José, as duas listas só têm dois nomes em comum. Essa divergência pode explicar-se, seja pelo fato de Mt., ter preferido a sucessão dinástica ̀ descendência natural, seja por admitir-se equivalência entre a descendência legal (lei do levirato) e a descendência natural.³

A despeito dos sinais irrefutáveis que marcaram o nascimento de Jesus, entendidos como necessários à comprovação de ser Ele o Messias aguardado pelos judeus, a sua vinda foi anteriormente prevista por profetas do Antigo Testamento, condição enfatizada por Mateus e Lucas:

[…] O principal propósito de duas listas ́ estabelecer a reinvindicação de Jesus como filho de Davi, e mais geralmente salientar sua solidariedade com a humanidade e sua íntima relação com todos quantos houve antes dele. Cristo e a nova aliança estão seguramente ligados com a era da antiga aliança [Abraão, Moisés].⁴

Em suma: “Mateus apresenta Jesus como herdeiro legal do trono de Davi. A genealogia de Lucas expõe a sua descendência sanguínea. […]”.⁵

A Doutrina Espírita considera as implicações espirituais da genealogia de Jesus, pois faz mais sentido entendermos Jesus como parte integrante dos planos de Deus, no dizer de Mateus, ou considerá-lo filho de Deus, conforme Lucas, do que decorar a listagem de nomes que revelam os ancestrais do Mestre, no plano físico. Mesmo assim, há perguntas que surgem naturalmente quando consideramos a vinda de Jesus entre nós e a sua ascendência biológica, tais como: por que Jesus optou por nascer judeu? Por que nã romano, grego ou outro povo gentílico? Emmanuel faz as seguintes considerações:

E, recordando esses apontamentos da História, somos naturalmente levados a perguntar o porquê da preferência de Jesus pela árvore de Davi, para levar a efeito as suas divinas lições ̀ Humanidade; mas a própria lógica nos faz reconhecer que, de todos os povos de então, sendo Israel o mais crente, era também o mais necessitado, dada a sua vaidade exclusivista e pretensiosa. “Muito se pedirá a quem muito haja recebido”, e os israelitas haviam conquistado muito, do Alto, em matéria de fé́, sendo justo que se lhe exigisse um grau correspondente de compreensão, em matéria de humildade e de amor.⁶

Emmanuel prossegue em seus comentários, recordando que, a despeito das profecias relacionadas à vinda do Cristo, a maioria das autoridades religiosas do Judaísmo não aceitaram Jesus – exceto Gamaliel e, possivelmente, Nicodemos. Os religiosos judeus e os membros do sinédrio eram demasiadamente orgulhosos e vaidosos, não conseguindo entender por que o Messias Celeste nasceria anonimamente numa manjedoura e seria conhecido como filho de um humilde carpinteiro:

[…] Os sacerdotes não esperavam que o Redentor procurasse a hora mais escura da noite para surgir na paisagem terrestre. Segundo a sua concepção, o Senhor deveria chegar no carro magnificente de suas glórias divinas, trazido do Céu ̀à Terra pela legião dos seus Tronos e Anjos; deveria humilhar todos os reis do mundo, conferindo a Israel o cetro supremo na direção de todos os povos do planeta; deveria operar todos os prodígios, ofuscando a glória dos Césares. […] O Judaísmo, saturado de orgulho, não conseguiu compreender a ação do celeste emissário. Apesar da crença fervorosa e sincera, Israel não sabia que toda a salvação tem de começar no íntimo de cada um e, cumprindo as profecias de seus próprio filhos, conduziu aos martírios da cruz o divino Cordeiro.⁷

O nascimento de Jesus

O nascimento de Jesus, significativo marco histórico da humanidade terrestre, aconteceu em momento propício como parte dos planos de Deus de enviar o seu Messias ̀ comunidade terrestre, tendo em vista o futuro da Humanidade. Apesar de que a ideia de domínio e subjugação de povos estivesse presente à época, já existia uma boa base moral transmitida por Moisés e os profetas do Antigo Testamento, propícia ̀ manifestação da Lei de Amor que Cristo anunciaria e vivenciaria. Em termos históricos, sabe-se que Ele nasceu durante o reinado do imperador romano César Augusto ou, mais precisamente, Caio Júlio César Otávio Augusto (do latim, Caius Julius Cæsar Octavianus Augustus), também conhecido como Otaviano, que reinou durante o período de 3 a.C. a 14 d.C. Ainda segundo a História, César Augusto teria ordenado um recenseamento em relação aos povos do[1]minados, inclusive os judeus. Segundo os seguintes registros de Mateus e Lucas, somos informados onde Jesus nasceu:

• Mateus, 2:1 e 2: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei do judeus recém-nascido?”

• Lucas, 2:1 a 7: “Naqueles dias, apareceu um edito de César Augusto, ordenando o recenseamento de todo o mundo habitado. Esse recenseamento foi o primeiro enquanto Quirino era governador da Síria. E todos iam se alistar, cada um na própria cidade. Também José subiu da cidade de Nazaré́ na Galileia, para a Judeia, na cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e da família de Davi, para se inscrever com Maria, desposada por ele, que estava grávida. Enquanto lá estavam, completaram-se o dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque nã havia um lugar para eles na sala.”

Belém da Judeia, também chamada de Belém de Efrata, era a cidade dos antepassados de Davi. Foi destruída pelos romanos no século II depois de Cristo, durante o reinado do imperador romano Adriano (Publius Aelius Hadrianus, 76– 138 d.C.). O local exato do nascimento de Jesus se perdeu com a destruição da cidade, ainda que Helena, a esposa do imperador Constantino I (272–337 d.C.), tenha erguido a Igreja da Natividade no local em que, supostamente, se encontrava a estrebaria e a manjedoura.⁸ Mas os estudiosos têm dúvidas a respeito. Constantino, o Grande (em latim, Flavius Valerius Constantinus), foi o primeiro imperador romano convertido ao Cristianismo e governou o Império Romano do Oriente, em Bizâncio, cidade que ficou conhecida como nova Roma, mais tarde denominada Constantinopla e, hoje, Istambul:

Nos dias atuais, Belém ́um centro de peregrinação, com suas construções em altas paredes de pedra, intricadas ruas estreitas, exibindo arcadas em seus trajetos.

Sempre pequenina, desde os tempos bíblicos, compondo notável contraste com as majestosas colinas do deserto da Judeia […].⁹

A data exata do nascimento de Jesus sempre foi motivo de controvérsias, inclusive quanto às citações de Mateus e Lucas:

[…] Uma vez que Josefo data o recenseamento sob Quirino [governador da Síria] em 6 d.C.; a cronologia do nascimento de Jesus fornecida por Lc., não se concilia com a de Mt., na qual Jesus nasceu antes da morte de Herodes Magno [ou Grande] (4 a.C.), talvez desde o ano 8-6. […].¹⁰

A vinda do Cristo, porém, impregnou a atmosfera do planeta Terra de elevadas vibrações, fornecendo, de certa forma, uma trégua as desarmonias reinantes. Neste sentido, o governo do imperador romano Augusto Otaviano se revela como uma era de beleza e realizações nobres, assim assinalada por Humberto de Campos:

É que os historiadores ainda não perceberam, na chamada época de Augusto, o século do Evangelho ou da Boa-Nova.

[…]

É por essa razão que o ascendente místico da era de Augusto se traduzia na paz e no júbilo do povo que, instintivamente, se sentia no limiar de uma transformação celestial.

Ia chegar ̀à Terra o sublime emissário. Sua lição de verdade e de luz ia espalhar-se pelo mundo inteiro, como chuva de bênçãos magníficas e confortadoras. A Humanidade vivia então, o século da Boa-Nova.

Era a “festa do noivado” a que Jesus se referiu no seu ensinamento imorredouro.

Depois dessa festa dos corações, qual roteiro indelével para a concórdia dos homens, ficaria o Evangelho como o livro mais vivaz e mais formoso do mundo, constituindo a mensagem permanente do Céu, entre as criaturas em trânsito pela Terra, o mapa das abençoadas altitudes espirituais, o guia do caminho, o manual do amor, da coragem e da perene alegria.¹¹

Os registros de Mateus quanto ao local e as condições do nascimento de Jesus são breves: ele prefere enfatizar a visita dos magos. Lucas, ao contrário, nenhuma referência faz à visita dos magos, mas destaca o aviso do nascimento do Mestre Nazareno transmitido aos pastores por um anjo do Senhor. Analisemos, sob a óptica espírita, os dois relatos dos evangelistas:

1) Nascimento de Jesus: a visita dos magos do Oriente (Mateus, 2:1 a 4; 7 a 11):

“Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no céu surgir e viemos homenagea-lo” Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda a Jerusalém. E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. Eles responderam: “Em Belém da Judeia […]. Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido. E enviando-os a Belém disse-lhes: “Ide e procurai obter informações exatas a respeito do menino e, ao encontra-lo, avisai-me, par que também eu vá́ homenagea -lo”. A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham visto no céu surgir ia ̀ frente deles, até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente. Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam.”

Comentários espíritas

Os magos eram considerados astrólogos ou sábios que vieram de algum lugar do Oriente: Pérsia, Babilônia ou da Arábia do Sul.¹² Podem ter vindo da Caldeia, Pártia ou lugares próximos,¹³ Não se sabe ao certo. Respeitáveis estudiosos afirmam que

[…] os magos eram eruditos que se distinguiam no campo da Matemática, da Astronomia, da Astrologia, da Alquimia e da Religião. Com frequência, eram conselheiros de cortes reais, e um dos seus deveres era estudar as estrelas […].¹⁴

Quanto à estrela que teria servido de guia aos sábios orientais, parece-nos impossível supor que uma estrela, o corpo celeste tal como ́ definido pela Astronomia, pudesse s deslocar e definir um percurso para os magos seguirem. Há diferentes interpretações a respeito do que seria, de fato, esse corpo celeste. Destacamos três possíveis argumentos:

• A estrela seria uma personalidade. Um anjo, por exemplo, que teria guiado os magos a Jerusalém, onde encontraram Herodes.

• A estrela e a narração seriam um mito, ambos criados por Mateus para engrandecer a figura de Jesus.

• A estrela representaria uma conjunção de planetas: foi a declaração do famoso astrônomo alemão Kepler (Johannes Kepler, 1571– 1630) e do matemático e geógrafo alemão Münster (Sebastian Münster, 1489– 1552), autor do famoso livro Cosmografia universal, publicado em 1544.

Allan Kardec pondera sobre o assunto ̀ luz da fé raciocinada:

[…]. A questão não é saber se o fato narrado por Mateus ́é real ou não, ou se passa de uma figura indicativa de que os magos foram guiados de forma misteriosa ao lugar onde estava o menino Jesus, uma vez que não existe meio algum para tal verificação; trata-se, isto sim, de saber se é possível um fato de tal natureza.

O que ́é certo é que, naquela circunstância, a luz não podia ser uma estrela. Na época que o fato ocorreu, era possível acreditassem que fosse, porque então se pensava que as estrelas eram pontos luminosos cravados no firmamento e que podiam cair sobre a Terra; mas não hoje, quando se conhece natureza das estrelas.

Entretanto, por não ter como causa a que lhe atribuíram, não deixa de ser possível o fato da aparição de uma luz com o aspecto de uma estrela. Um Espírito pode aparecer sob forma luminosa, ou transformar uma parte do seu fluido perispirítico em foco luminoso. […].¹⁵

2) Anúncio do Nascimento de Jesus aos pastores (Lucas, 2:8 a 15):

Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. O Anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de grande temor.

O Anjo, porém, disse-lhes: “Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será́ para todo o povo:

Nasceu-vos hoje um Salvador, que ́ o Cristo-Senhor, na cidade de Davi. Isto vos servirá sinal: encontrareis um recém- -nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura”. E de repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar a Deus dizendo: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que Ele ama!”. Quando os anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre si:

“Vamos já a Belém e vejamos que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer”.

Comentários espíritas

O Espiritismo nos fornece, de imediato, as seguintes explicações para melhor entendermos os acontecimentos:

• Aparecimento de um anjo aos pastores (Lucas, 2:9 a 12)

O fato pode ser explicado por meio de duas possibilidades:

  1. vidência/clarividência mediúnica dos pastores; b) materialização do Espírito puro (anjo). Quanto ̀ primeira possibilidade, consta em O livro dos médiuns:

Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver Espíritos. Alguns gozam dessa faculdade em estado normal, quando perfeitamente acordados, e conservam lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem em estado sonambúlico ou próximo d sonambulismo. […] A possibilidade de ver os Espíritos quando sonhamos não deixa de ser uma espécie de mediunidade, mas não constitui, propriamente falando, a mediunidade de vidência. […].¹⁶

Não seria impossível que os pastores que montavam guarda ao rebanho durante a vigília (Lucas, 2:8) fossem dotados da faculdade de vidência, estando eles acordados ou no estado sonambúlico – até porque não sabemos quantos pastores estavam de vigília. Mas nos parece incomum. A segunda possibilidade, a de materialização do anjo, seria a hipótese mais provável, pois independe da vidência mediúnica, visto que qualquer pessoa, vidente ou não, pode ver a entidade espiritual materializada. Nesta situação, o Espírito ou Espíritos materializados teriam utilizado o fluido vital ou bioenergia, denominado ectoplasma, proveniente dos seres vivos presentes: homens, animais e plantas. Sabemos que, com a absorção do ectoplasma, o Espírito produz a própria materialização e tangibilidade, como consta em O livro dos médiuns: “[…] Pela combinação dos fluidos, o perispírito assume uma disposição especial, sem qualquer analogia para vós e que o torna perceptível”¹⁷. E mais:

Quando o Espírito deseja ou pode aparecer, reveste por vezes uma forma ainda mais precisa, com todas as aparências de um corpo sólido, a ponto de causar completa ilusão, levando o observador a crer que tem diante de si um ser corpóreo. Em alguns casos, finalmente, e sob o império de certas circunstâncias, a tangibilidade pode tornar-se real, o que significa que podemos tocar, palpar e sentir, na aparição, a mesma resistência, o mesmo calor que num corpo vivo, o que não impede que a tangibilidade se desvaneça com a rapidez do relâmpago.¹⁸

• Surgimento de uma multidão de Espíritos do exército celestial que louvava a Deus o nascimento do Cristo (Lucas, 2:13 e 14)

Da mesma forma que um Espírito pode materializar-se e tornar-se visível aos circunstantes, outros tantos podem fazê-lo também. Da mesma forma, a voz de um ou vários Espíritos pode ser, igualmente, materializada. As materializações de um ser espiritual, de objetos e sons, desde ruídos até sentenças, melodias, entre outros, são conhecidas como fenômenos de efeitos físicos, cujos médiuns são assim conceituados por Allan Kardec “[…] Os que têm o poder de provocar efeitos materiais ou manifestações ostensivas”¹⁹.

Após o aparecimento do anjo e do exército celestial anunciando o nascimento de Jesus e o local onde Ele seria encontrado, um clamor de vozes se materializou na atmosfera e os pastores ouviram o seguinte louvor dos emissários celestiais: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama” (Lucas, 2:14)²⁰. Com a sabedoria que lhe ́ inerente, Emmanuel analisa o significado do cântico proferido pelos Espíritos Superiores no texto Mensagem de Natal, da qual citamos os seis primeiros parágrafos:

O cântico das legiões angélicas, na noite divina, expressa o programa do Pai acerca do apostolado que se reservaria ao Mestre nascente.

O louvor celeste sintetiza, em três enunciados pequeninos, a plataforma do Cristianismo inteiro.

Glória a Deus nas Alturas, significando o imperativo de nossa consagração ao Senhor Supremo, de todo o coração e de toda a alma.

Paz na Terra, traduzindo a fraternidade que nos compete incentivar, no plano de cada dia, com todas as criaturas.

Boa Vontade para com os homens, definindo as nossas obrigações de serviço espontâneo, uns ̀ frente do outros, no grande roteiro da Humanidade.

O Natal exprime renovação da alma e do mundo, nas bases do Amor, da Solidariedade e do Trabalho.²¹

De forma resumida apresentamos os principais acontecimentos relacionados à genealogia e nascimento de Jesus. Muito ainda poderia ser dito, tendo como referência os Evangelistas Marcos e João, e os demais livros neotestamentários, assim como as profecias anunciadoras do advento do Messias Celeste, Jesus Cristo, o Guia e Modelo da humanidade terrestre.²² Todavia, tenhamos sempre em mente:

PLATAFORMA DO MESTRE²³

Ele salvará seu povo dos pecados deles. (Mateus, 1:21.)

Em verdade, há dois mil anos, o povo acreditava que Jesus seria um comandante revolucionário, como tantos outros, a desvelar-se por reivindicações políticas, à custa da morte, do suor e das lágrimas de muita gente.

Ainda hoje, vemos grupos compactos de homens indisciplinados que, administrando ou obedecendo, se reportam ao Cristo, interpretando-o qual se fora patrono de rebeliões individuais, sedento de guerra civil.

Entretanto, do Evangelho não transparece qualquer programa nesse sentido.

Que Jesus é o Divino Governador do planeta não podemos duvidar. O que fará Ele do mundo redimido ainda não sabemos, porque ao soldado humílimo são defesos os planos do General.

A Boa-Nova, todavia, ́é muito clara, quanto à primeira plataforma do Mestre dos mestres. Ele não apresentava títulos de reformador dos hábitos políticos, viciados pelas más inclinações de governadores e governados de todos os tempos.

Anunciou-nos a celeste revelação que Ele viria salvar-nos de nossos próprios pecados, libertar-nos da cadeia de nossos próprios erros, afastando-nos do egoísmo e do orgulho que ainda legislam para o nosso mundo consciencial.

Achamo-nos, até hoje, e simples fase de começo de apostolado evangélico Cristo libertando o homem das chagas de si mesmo, para que o homem limpo consiga purificar o mundo.

O reino individual que puder aceitar o serviço liberatório do Salvador encontrará a vida nova.

N.A.: Trabalhadora espírita vinculada à Federação Espírita Brasileira desde 1980. Supervisora do programa “O Evangelho Redivivo” – Brasília (DF).

REFERÊNCIAS:
¹ HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. Verbete: Genealogia. p. 963.
² DOUGLAS, J. D. (Org.). O novo dicionário bíblico. Trad. João Bentes. 3. ed. São Paulo: Vila Nova, 2006. Verbete: Genealogia, p. 539.
³ BÍBLIA DE JERUSALÉM. Coord. Gilberto da Silva Gorgulho; Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson. Diversos tradutores. Nova ed. rev. e ampl. 18. imp. São Paulo: Paulus, abril de 2023. O evangelho segundo Mateus. Nota de rodapé “a”, p. 1703.
⁴ DOUGLAS, J. D. (Org.). O novo dicionário bíblico. Trad. João Bentes. 3. ed. São Paulo: Vila Nova, 2006. Verbete: Genealogia, de Jesus Cristo p. 542.
⁵ CHAMPLIN, Russell Norman. O novo testamento interpretado versículo por versículo: Mateus/Marcos. v. 1. Nova edição revisada, São Paulo: Hagnos, 2014. cap. 1, it. Observações gerais sobre a genealogia de Jesus, p. 264.
⁶ XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. cap. 7 – O povo de Israel, it. A escolha de Israel.
⁷ XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. 13. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. cap. 7 – O povo de Israel, it. A incompreensão do Judaísmo.
⁸ CALDEIRA, Wesley. Da manjedoura a Emaús. 1. ed. 1. imp. Brasília, DF: FEB2014. cap. 6 – Belém.
⁹ CALDEIRA, Wesley. Da manjedoura a Emaús. 1. ed. 1. imp. Brasília, DF: FEB 2014. cap. 6 – Belém.
¹⁰ BÍBLIA DE JERUSALÉM. Coord. Gilberto da Silva Gorgulho; Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson. Diversos tradutores. Nova ed. rev. e ampl. 13. imp. São Paulo: Paulus, 2023. Evangelho segundo Lucas, 2:1-2, nota de rodapé “l”, p. 1789 e 1790.
¹¹ XAVIER, Francisco Cândido. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 37. ed. 15. imp. Brasília, DF: FEB: 2020. cap. 1 – Boa-Nova.
¹² BÍBLIA DE JERUSALÉM. Coord. Gilberto da Silva Gorgulho; Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson. Diversos tradutores. Nova ed. rev. e ampl. 13. reimp. São Paulo: Paulus 2023. Evangelho segundo Mateus. Nota de rodapé “c”, p. 1705.
¹³ CHAMPLIN, Russell Norman. O novo testamento interpretado versículo por versículo: Mateus/Marcos. v. 1. Nova edição revisada, São Paulo: Hagnos, 2014. cap. 2, p. 272.
¹⁴ CHAMPLIN, Russell Norman. O novo testamento interpretado versículo por versículo: Mateus/Marcos. v. 1. Nova edição revisada, São Paulo: Hagnos, 2014. cap. 2, p. 272.
¹⁵ KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 4. imp. Brasília, DF: FEB, 2023. cap. 15, it. 4.
¹⁶ KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 9. imp. Brasília, DF: FEB, 2022. 2a pt., cap. 14, it. 167.
¹⁷ KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 9. imp. Brasília, DF: FEB, 2022. 2a pt., cap. 6, it. 100, q. 23.
¹⁸ KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 9. imp. Brasília, DF: FEB, 2022. 2a pt., cap. 6, it. 104.
¹⁹ KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 9. imp. Brasília, DF: FEB, 2022. 2a pt., cap. 16, it. 187.
²⁰ BÍBLIA DE JERUSALÉM. Coord. Gilberto da Silva Gorgulho; Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson. Diversos tradutores. Nova ed. rev. e ampl. 18. imp. São Paulo: Paulus, 2023. Evangelho segundo Lucas, Nascimento de Jesus e visita dos pastores.
²¹ XAVIER, Francisco Cândido. Antologia mediúnica do Natal. Espíritos diversos. 7. ed. Brasília, DF: FEB, 2023 cap. 49 [mensagem de Emmanuel].
²² KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 12. imp. Brasília, DF: FEB, 2022. q. 625.
²³ XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 11. imp. Brasília, DF: FEB, 2022. cap. 174.